sexta-feira, 20 de março de 2009

...Teu até a morte. Ludovico Gier.

Nao voltei, mas precisava guardar esta carta em algum lugar...

Achei um site (http://www.polonesesnobrasil.com.br), de cartas dos Poloneses na epoca em que chegaram no Brasil e, apos se estabelecrem, enviaram cartas para seus familiares.
Fico pensando na aflicao do Ludovico. Sua carta foi interceptada pelos Russos e jamais foi entregue. Segue...
Ela me tocou tanto que tive que retornar a este site para guarda-la.



37. Ludovico Gier do Rio de Janeiro para uma destinatária desconhecida.





Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1891.



Queridíssima e única no mundo Maria!



Certamente vais-te admirar que ouso escrever-te e por isso peço escusas. Estas poucas palavras que rascunho para você, saiba que para mim são muito agradáveis, a ponto de ter a impressão que estou falando com você, mas basta que olhe pela janela e contemple a imensidão que nos separa (moro perto do mar), tenho a impressão de que você não quer mais saber de mim, que já me esqueceste, afinal mereci isto. É verdade fui um tresloucado, mas o que se há de fazer. Certamente sou e serei forçado a peregrinar pelo mundo e pensar em você dia e noite. Ainda não estou desesperançado, algum dia, mesmo que seja uma hora antes da morte tenho que te ver. Hoje sinto o que você significava para mim, querida Maria!!! Confesso sinceramente que escrevo esta carta com verdadeira dor de coração que quer arrebatar-se para a Europa para te ver e pedir perdão de joelhos. Não estou em condições de externar o que se passa comigo. Mas queridíssima Maria, esqueça tudo o que te fiz de mal, perdoe-me tudo e diga somente esta palavra que me amas, como me amavas antes e que serás minha até a morte. Como fui bem sucedido e ganho muito bem, estou disposto a abandonar tudo e voltar para junto de ti. Se a tua resposta for ao contrário então peço-te que me lembres se tens falta de alguma coisa e estarei pronto a fazer tudo por você. Sei que a tua resposta será esta: Perguntas se preciso de alguma coisa? Você sabe como me deixou, então logicamente não deveria perguntar-me. Se aceitas que te mande alguma coisa então aceito o meu, talvez já não seja meu, Figurski. Responda-me pelo menos algumas palavras que me serão mais caras do que tudo, mas o mais depressa possível. A viagem não vou descrever, porque não há nada de interessante, menciono apenas que aqui temos um calor excessivo. Estamos em pleno verão.

Querida Maria! Só isto quero escrever-te e esperar o que você vai responder. Ganho aqui muito bem, pelo menos uns 12 rublos mensais e depois poderei ganhar até mais. Eis a razão de minha pergunta, se me é permitido interrogar, minha Maria: você não quer vir? Pelo menos ficarás 100 vezes melhor do que na Europa. Imediatamente alugarei uma casa bonita e jamais te abandonarei até a morte. Isto jurarei na Igreja. Aguardo ansioso a tua resposta.

Se porventura me negares tudo, então a partir desse instante vou perambular pelo mundo e você querida serás a minha companheira dessa viagem e até a morte ser-me-ás anjo para quem vivi e morro.



Teu até a morte Ludovico Gier.





Meu endereço: Luiz Gier, Rio de Janeiro / Rua Ourives, Casa Oriental,

Nº 49, Brasil.

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